Banda migrou de Passo Fundo para Porto Alegre e lança disco que reúne nove produtores. As faixas foram distribuídas para serem produzidas “na faixa” e resultado é um mosaico da produção gaúcha atual
Clarissa Pont
Para quem conhece o filme fica mais fácil entender a marcha desta banda gaúcha. Quem resume que é meio “Incrível exército de Brancaleone” é o próprio Ricardo Sabadini, vocal e guitarra. Para quem não conhece, imagine o cavaleiro Brancaleone, uma espécie de Don Quixote maltrapilho, formar um exército de quatro miseráveis e partir em busca de um feudo que ele julga lhe pertencer. Durante o longo percurso pela Europa, no lombo do pangaré Aquilante (uma referência ao Rocinante, de Don Quixote), Brancaleone enfrenta a peste negra, bruxas e bárbaros de todas as espécies, numa sátira demolidora dos conceitos de honra e coragem dos heróis medievais. Agora transmute tempo e espaço, troque a Itália da Idade Média por Passo Fundo, o exército de quatro mortos de fome por Ricardo e Gustavo Chaise, vocal e guitarras, Reynaldo Migliavacca na bateria e Edu Meirelles no baixo. O feudo, troque pelo desejo de um lugar à sombra
“Surgiram, pagaram e sumiram”
O exército da Severo chegou
Uma faixa na faixa
Em meio à paranóia de bandas com a pretensão de fazer shows que neutralizem a emissão de carbono, os guris de Passo Fundo conseguiram o que nenhum Radiohead já conquistou: um CD de economia solidária. Rock solidário, para ser mais exato. A idéia era bater de porta em porta nas produtoras de Porto Alegre e pedir “uma faixa na faixa”. “Todo mundo resolveu dar um pouquinho pelo rock. Os caras vivem de produção, seria muito caro para um estúdio desses dar o CD inteiro de presente, mas uma faixa era algo sensato”, explica Cida Pimentel, autora da sacada. O disco é filho dessa mãe com nove conhecidos produtores da cena gaúcha. “A idéia é maravilhosa, é um grande chão, um monte de produtores juntos em torno de um disco. Foi tranqüilo porque eu também tenho uma ligação emocional com eles, que acho que nenhum outro tem, eu já tinha curtido trabalhar com os caras. Vejo uma coisa legal e que promete neles. Tem coisa ali”, sentencia Ray Z, um dos produtores que assumiu o projeto. “A Severo em Marcha tem personalidade e é uma banda ideal para experimentar este tipo de projeto onde caras diferentes interferem no trabalho. Se você escutar o disco vai ver que a personalidade da banda está sempre ali e isto é o mais importante”, diz Duca Leindecker, outro pai do rebento.
“Não tínhamos um puto”, sentencia Ricardo. E, assim, surgiu a melhor laranja de amostra da produção do su nos últimos tempos. Quem topou a idéia quis que sua faixa ficasse melhor que as outras e cada produtora deu tudo de si. “Cada um tem uma característica própria, até pelos equipamentos com os quais os caras trabalham. O Paulo Arcari ficou com a Quem Será, a música mais difícil do álbum. Ela tem um arranjo de bateria grande, bem diferente, e com o trabalho do Arcari a música ficou grandiosa”, elogia Ricardo. Depois que o pessoal produziu, não tinha quem masterizasse o disco. Foi quando a Casa Elétrica, estúdio de masterização de Porto Alegre, bateu na porta dos guris e perguntou: “Pô, e não ficou nenhuma música para nós?”. Mais uma das coincidências que leva esse exército de Brancaleone para frente. No final, o disco da Severo em Marcha é uma obra coletiva, um filho parido por todo rock gaúcho. “Um livro de contos, não um romance”, resume Cida e completa afirmando que “é uma coisa meio anos 60, de não se sentir sozinho”. Quer coisa mais solidária? Quer coisa mais rock n´roll?
Baixe a música: "O Tempo é quando eu quero"
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