terça-feira, 11 de novembro de 2008

Fim de semana Rock Star - parte 1

A cabeça começou a ferver por volta das 19h de sexta, quando a banda se reuniu para o segundo ensaio de sua história, o último antes do show de sábado. O local era o estúdio que John Bonham montou na sua casa, fruto de seu casamento com uma mulher rica. Raul Seixas e Bill Wyman chegam com as mulheres e a agitação que marca a presença da dupla. É praticamente impossível organizar qualquer coisa com a presença dos dois, a coisa simplesmente acontece. Bill puxa um charuto daqueles ("olha o que o raul preparou pra nós!"), que passa de mão em mão enquanto o pessoal desenrola os cabos e liga o equipamento. A essa altura as mulheres já estão pedindo dinheiro e a chave do carro para comprar cerveja, Bonham está a postos na bateria, Raul folheia uma pasta com as letras das músicas, Bill corre de um lado para outro ligando coisas desnecessárias e M. olha a guitarra tentando descobrir o que fazer com aquilo.
Vamos começar pelo começo, blues, onde todos podem andar seguros pela trilha de três notas em dó. Raulzito pede seu café até que, chega, blues não tem fim. Trocam o líquido pela cerveja quente que as mulheres jogam da porta. A guitarra desafinada, o baixo fora do tom, a batera 20 vezes mais pesada do que devia e nenhuma música tocada até o fim. Tudo bem, na hora dá tudo certo. O pessoal recolhe suas coisas com a sensação nítida de que uma grande merda está para acontecer, e não tem nada a ver com o charuto que é reaceso.
Bill e Raul têm um compromisso no boteco e já estão atrasados. Levam M. para aumentar a envergadura moral da apresentação semi-acústica, já que ele só toca com a guitarra barata que conseguiu emprestada de um cara que viu apenas três vezes em toda sua vida.
O carro com cinco pessoas, dois violões, uma guitarra, um baixo, um P.A., uma mesa de som, dois suportes para microfone, uma infinidade de cabos, pastas com as letras e cifras das músicas e uma boa quantidade de drogas estaciona na frente do bar. Cada um pega o que pode e vai subindo as escadas. É por volta das 21h30 e o público já está quente com as cervejas ao som de reggae, a música oficial do lugar. Os "músicos" conseguem montar a aparelhagem em tempo recorde. cerveja, cerveja, cerveja e já estão prontos para tocar. O começo é o começo: blues. Tudo parece correto e eles vão entrelaçando músicas do Raul com outros Rocks. Lá pelas tantas aparece um bongô e M. larga a guitarra para mostrar seus ridículos dotes como percussionista. O público, que até então estava quieto ("o que esses caras estão fazendo ali?") esboça uma reação.
A notícia de que aqueles malucos são a banda que vai se apresentar no "Grande Bar" na noite seguinte começa a correr. Pessoas estranhas puxam conversa e são tratados como o grande amigo. No fundo os três estão bêbados, chapados e extremamente preocupados com o que pode acontecer nas próximas horas. A loucura será intensa, a banda não ensaiou, ou pelo menos não sabe como fazer o fim das músicas, e a expectativa do público parece ser das melhores.
Mais uma cerveja. Na hora tudo dá certo. mais algumas músicas e Raul solta a voz do fundo da alma, Bill toca um violão denso e convincente e M., de volta à guitarra, brinca tranqüilo entre os trastes das cordas inferiores. Madrugada adentro assim e o público que joga sinuca, bebe e fuma se acostuma com aquela pantomina de sons que vai de Led Zeppelin a Zeca Baleiro com a desenvoltura de quem não sabe o que está fazendo.
Isso até chegar ao fim, guardar tudo, receber R$ 50 cada um e dar adeus à noite de sexta numa corrida enlouquecida pelas ruas da cidade até que todos estivessem na segurança do lar.

P.s.: Bonham ficou em casa com os cachorros, a mulher, a maconha e a cerveja.

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