sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Putzgrila recomenda: presentaço de natal

A Putzgrila agora começa a sugestão de presentes de Natal Rocker.
E pra começar essa leva, temos aqui um box de 9 DVD's pra deixar rocker nenhum reclamar.



via Portal Rock Press

"ROCK AND ROLL HALL OF FAME LIVE 9 DVD SET



"Eu não acredito em instituições. Sempre me pareceu que o rock and roll não deveria ser respeitável. Mas um amigo meu, Robbie Robertson (guitarrista e principal compositor da legendária The Band), me fez ver que pequenos e grandes milagres acontecem aqui."

Assim falou o todo-poderoso deus da guitarra Eric Clapton, na festa do Rock And Roll Hall of Fame em 1993, quando tocou pela primeira vez em 25 anos com Jack Bruce e Ginger Baker, seus companheiros no mitológico Cream. Não poderia haver bênção mais adequada para que o gênero musical insubordinado por natureza pudesse, mais uma vez, quebrando regras e expectativas, virar, sim, instituição. E, desde 1995, ser também tema de um belo museu, instalado em Cleveland, Ohio, cidade onde o DJ Alan Freed cunhou a expressão rock and roll.

De qualquer modo, tradição é tradição. Desde que começou a convocar nomes para seu seleto clube, em 1986, o Rock and Roll Hall of Fame já causou muita celeuma. Mas, em que pesem todas as polêmicas por essa ou aquela escolha do colegiado, há um fato que paira acima das discussões: as cerimônias de introdução não param de proporcionar performances antológicas e encontros históricos entre deuses, lendas, mitos, monstros ou simplesmente grandes talentos musicais. Esta série de 9 DVDs reúne mais de 24 horas de rock and roll, blues, folk e soul de primeira grandeza, em registros que vão da primeira edição, com o palco adoravelmente zoneado, mais no formato jam, até a festa de 2009,com som, luz e palco impecáveis.

Está quase todo mundo aqui. Dos pioneiros Chuck Berry, Bo Diddley, Little Richard, Jerry Lee Lewis, Carl Perkins, Roy Orbison e Johnny Cash a "clássicos" contemporâneos do naipe de U2, Metallica, R.E.M., Eddie Vedder (do Pearl Jam), Dave Grohl (Foo Fighters, ex-Nirvana) e Green Day. Passando, é claro, por gigantes como Paul McCartney, George Harrison, Mick Jagger, Keith Richards, Jiimmy Page, Eric Clapton, Jeff Beck, Kinks, Byrds, Creedence Clearwater Revival, Lou Reed, Neil Young, Steve Winwood, AC/DC, Aerosmith, The Who - praticamente um who's who no cânone do rock anglófono. Some a eles um dream team do rhythm & blues: Ray Charles, Stevie Wonder, Al Green, James Brown, Isley Brothers, Prince, Aretha Franklin, Tina Turner, Solomon Burke, Wilson Pickett, Four Tops, Isaac Hayes... E, claro, não dá para esquecer do pai de todos, o blues, representado por figuras mitológicas como John Lee Hooker e Buddy Guy.

Difícil não se emocionar com alguns momentos singulares, como a homenagem a George Harrison que tem Prince arrasando em "While My Guitar Gently Weeps" (com Stevie Winwood no órgão) e que recupera a rara e linda "Handle With Care", dos Traveling Wilburys (supergrupo que reuniu o ex-beatle com Dylan, Roy Orbison, Tom Petty e Jeff Lynne, ex-ELO).

Quem aprecia bons guitarristas tem um festim para os ouvidos: Jeff Beck em versão instrumental de "People Get Ready (The Impressions), Jeff Beck em duelo com Jimmy Page, e também em um encontro de monstros que, além dos dois ex-Yardbirds, inclui Ron Wood, Joe Perry e o Metallica, com James Hetfield cantando "The Train Kept A Rolling". Antológico!

Alguns encontros, claro, funcionam melhor que outros: Joan Jett, John Fogerty, John Mellencamp e o sempre elétrico Billy Joel (um dos sócios mais atuantes no palco das cerimônias do Hall of Fame) recriam a preciosidade dos anos 60 "Glad All Over", do Dave Clark Five. E não é porque está quase - todo mundo enfarpelado em smokings e trajes formais que a trangressão rock'n'roll não aparece. Depois de uma eletrizante "Man On The Moon" com participação de Eddie Vedder, o guitarrista Peter Buck, do R.E.M., termina bicando a caixa de retorno na direção da plateia. O cantor do Pearl Jam é, junto com Eric Clapton e Bruce Springsteen, um dos que mais aparece neste DVD set: também pode ser apreciado cantando à frente dos Doors e, de moicano, fazendo o elogio dos Ramones. Que não estão aqui, mas são muito bem celebrados por uma versão de "Blitzkrieg Bop" by Green Day.

O clima "tudo junto e misturado" das jam bands nem sempre favorece a clareza dos arranjos, mas proporciona grandes momentos como Bruce Springsteen e Jagger, olhos nos olhos e bocas muito próximas, dividindo o microfone em "I Saw Her Standing There", em 1989, ou Paul McCartney e Dion na farra de "What I'd Say", homenageando o mestre Ray Charles. Ou ainda o próprio Paul, soltinho, sem baixo, borboleteando para cantar "Blue Suede Shoes" à maneira original de Carl Perkins. Em alguns casos, a bagunça rende o melhor dos dois mundos, com espontaneidade e versões sensacionais, como acontece quando os Isley Brothers mandam "Shout", em 1992. Difícil não levantar do sofá da sala quando se tem os Four Tops cantando "I Can't Help Myself" e fazendo um sanduíche de Diana Ross, à frente de um certo Stevie Wonder no teclado e com um inspirado David Sanborn no solo de sax.

O nono DVD traz o melhor do Concert For The Rock And Roll Hall of Fame, realizado no Municipal Stadium de Cleveland, em setembro de 1995, para comemorar a inauguração do museu. Tem os os raros Kinks, perto de sua saideira, com a aula de rock "All Day And All Of The Night", e um punhado de encontros preciosos. Um deles junta Eric Burdon e Bom Jovi em dueto no clássico dos Animals (banda de Burdon) "It's My Life"; outro tem Lou Reed com o apoio do Soul Asylum em boa versão de "Sweet Jane", e rola também uma "Fortunate Son" na voz de seu autor, John Fogerty (do Creedence Clearwater Revival), acompanhado pela superbanda Booker T. & The MG's. No fim, o reverendo Al Green leva todos ao céu com sua "Tired Of Being Alone" e com "A Change Is Gonna Come", do mestre Sam Cooke (1931-1964).

São ao todo 152 números musicais na coleção. Mas o tesouro destes 9 DVDs vai além. Os 52 discursos de introdução e as cenas de bastidores dos extras proporcionam 9 horas adicionais de prazer. Dá gosto ver Mick Jagger falando sobre a inveja e complexo de inferioridade que tinha em relação aos Beatles "o monstro de quatro cabeças, eles só andavam juntos no começo" e seus casacos de couro. "Eu decidi que iria ter um igual, nem que pra isso tivesse que aprender a escreer canções", gracejou. Little Richard faz praticamente comédia stand-up, com direito a respostas espirituosas de rock stars que supostamente assediou com convites para subir a seu quarto de hotel. Pete Townshend brinca que Mick Jagger lhe passou uma doença venérea; a filha do falecido Keith Moon (baterista do Who) diz que um dos motivos pelos quais seu pai não está ali recebendo a honra é que ele tinha sido banido daquele hotel...

Paul McCartney comove na introdução de John Lennon em 1994: ao lembrar aventuras da adolescência vividas com o parceiro, destaca um olhar trocado quando escreveram "I'd love to turn you on" em "A Day in The Life" nessa hora, a câmera flagra Linda McCartney... É muita emoção: heróis são lembrados Keith Richards diz que ainda se vê trabalhando "na banda de Ian Stewart (1938-1985), o pianista que fundou os Stones -, mães velhinhas tremem na plateia, filhas lindas vibram (Liv Tyler) ou dão recados polêmicos, Stella McCartney, sem sutiã, estampou na camisa "About fucking time" quando seu pai foi homenageado, em 1999. Brigas e ressentimentos também são levados a público: John Paul Jones, excluído por Page e Plant do projeto Unledded, agradeceu à produção do Hall of Fame por ter "encontrado o número do meu telefone"; Roger Taylor, do Queen, disse que a honra ajudava a pagar por todos os Grammy que a banda não recebeu...

Os rock stars estão quase todos ali, soltinhos, interagindo, sem pose (pelo menos não o tempo todo). Tem um Dylan meio bebinho, Mike Love dos Beach Boys inconveniente em cima do palco, uma profusão de grandes ídolos que em algum momento parecem perdidos durante as jams... Bono com mullet, Edge com calças baggy, mitos gaguejando ao ler seus discursos... Até uma humilde Madonna dá as caras, como fã, para receber a honra por David Bowie, em 1996 – ela aproveita e conta uma ótima história sobre o primeiro show que viu na vida (e que lhe rendeu castigo até o fim do verão) quando tinha 15 anos. É quase todo mundo mesmo. Até quem não quer compactuar com aquilo tudo rende cena boa, caso dos Sex Pistols, que recusaram a honra com uma carta desaforada e devidamente lida no palco, para risos gerais. Mais que um apanhado de imagens sobre um evento tradicional no rock, esta coleção de DVDs humaniza os deuses do rock. Estejam eles eternizados no Hall of Fame ou não, são apenas seres humanos. E a gente gosta.

Por Pedro Só"


Aqui na Siciliano dá pra conferir setlist e comprar o presentão =D

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