Ontem pela manhã foi apresentado aos alunos de Jornalismo da UFRGS o novo currículo, que entrará em vigor a partir de 2009/01. No geral, o curso perdeu 20% de créditos obrigatórios e ganhou quase 40% a mais de eletivos. Muitas disciplinas oferecidas anteriormente em caráter obrigatório, como Economia, POrtuguês, Filosofia, Sociologia da Comunicação e Análise da Realidade Brasileira Contemporânea não fazem mais parte da nova grade curricular, e quem já cursou essas disciplinas terá um acréscimo significativo no número de créditos eletivos, já que haverá a conversão.
A justificativa da nova proposta, assim defendida por vários professores, é oferecer disciplinas práticas desde o início do curso, e "espalhar" as teóricas ao longo deste.
O que na verdade ocorreu foi a supressão violenta de disciplinas das áreas humanas e sociais de caráter teórico, que antes concentravam-se na primeira metade do curso com o objetivo de fornecer ao estudante embasamento e consciência crítica para questões da atualidade. Na prática, isto dificilmente ocorria, pois essas disciplinas eram muitas vezes desconsideradas pelos alunos, na sua maioria ávidos pelo conhecimento técnico, por aparecer na TV, essas coisas. A omissão de muitos professores selava o pacto de mediocridade; ninguém ensina e ninguém aprende, assim tá bom.
Mas pelo menos eram oferecidas.
Não se pode dizer que não tivemos ambiente de discussão e reflexão crítica dentro da Universidade. O espaço estava ali. Só não foi devidamente aproveitado.
E o que acontece agora? No lugar de teorias e estudos, "produção em tv", "produção em rádio", "produção em jornalismo impresso". Produzir, produzir, produzir. Só não sei o quê. Que espécie de "produto" será elaborado por adolescentes recém saídos da escola, adolescentes que, em sua ampla maioria, não gostam e não têm hábito de ler nem sequer um jornal? Adolescentes que ingressarão na Universidade e, sem nunca terem discutido o papel da televisão na sociedade atual, já sairão empunhando câmeras e gravando "passagens"???
Não quero dizer que a situação hoje é muito diferente. Acredito mesmo que a mediocridade se estende por todos os ambientes da Academia. Mas essa mudança curricular é um atestado, com carimbo e assinatura, da porcaria que se espera do jornalismo. Cada vez mais se fecha o cerco para quem ambiciona fazer algo diferente do lixo que é "produzido" pelos grandes grupos de mídia. Tornar o currículo do curso de jornalismo extremamente tecnicista, em detrimento do estímulo à discussão e reflexão (de que tanto se gaba a Academia) é apostar na idiotização dos profissionais da comunicação, que serão cada vez menos questionadores, menos prestadores de serviço à comunidade, cada vez mais alienados e úteis aos seus empregadores. Sim, porque a mudança de currículo, aliada ao fim da obrigatoriedade do diploma para jornalistas, serve descaradamente aos propósitos da indústria da mídia. Se os cursos estão cada vez menos teóricos e mais técnicos, os "profissionais" mais cedo estarão "preparados", mais cedo poderão ser contratados, e sem a necessidade de possuir diploma, trabalharão por ainda menos do que fazem hoje. Mais por menos. Erre-bê-ésse solta fogos e dá pulinhos de alegria.
Já falei demais. Estou indignada, desanimada, um pouco enojada.
3 comentários:
O jornalismo se tranformou em Ctrl C e Ctrl V.. o resto é produção.. e o conteúdo?
cada vez mais estão se tornando "profissionais" cabeça feita e ignorantes..mas é assim que se controla um povo pela ignorancia (falta de informação) ou medo.
O que decidirem tá bom.. pra reclama.. tem q se mexer.. hoje não dá .. tô cansado!?
ufa...
bom já quase acabaram com o ensino público nas bases (ensino fundamental e médio), mas assim atingem apenas aqueles que os pais não tem condições de colocar em uma escola paga. Faltava partir para a degradação dos cursos superiores nas universidades públicas...agora dá para atingir o resto também. Educação não dá voto né pessoal!!! Talvez eu esteja sendo muito pessimista, mas é o que me passou pela cabeça!!!
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